segunda-feira, 20 de junho de 2016

A covarde ameaça dos veículos de comunicação na América Latina

Nos últimos anos o poder das urnas deu espaço para uma expressiva presença de governos socialistas na América Latina. Os anos 2000 foram marcados pelo surgimento de grandes nomes da política de esquerda, principalmente na Venezuela e na Bolívia, como também, no Brasil, na Argentina e no Chile. Após sofrer significativa derrota nas urnas, o sistema neoliberal não se deu por vencido, e iniciou, por meio dos veículos de comunicação privados, uma massiva campanha contra os presidentes latino-americanos, focados em minimizar os atrasos sociais do continente, frutos das políticas colonialistas, neoliberais e dos governos autoritários de extrema direita, que fizeram da América Latina um verdadeiro quintal dos norte-americanos.


Com nomes como Hugo Chávez, Evo Morales, Cristina Kirchner e Luis Inácio, a América Latina pôde assumir um posto razoavelmente competitivo e se firmar como continente soberano e comprometido com o desenvolvimento social e cultural. Mesmo assim, muitos veículos privados passaram a investir contra esses líderes políticos que não atendiam aos almejos do grande capital e da elite econômica,, como Clarín na Argentina, a revista Veja no Brasil ou a RCTV na Venezuela, que protagonizou um dos capítulos mais vergonhosos para a comunicação na América Latina, quando deu respaldo ao golpe de estado que obrigou o presidente Hugo Chávez, eleito democraticamente, a deixar o Palácio Miraflores em Caracas, sob ameaça de ser bombardeado e morto, como foi mostrado pelo documentário La Revolución No Será Televisionada. Os veículos que apresentam participação majoritária no continente, em sua maioria, pertencem a oligarquias familiares que possuem vínculo com o capital internacional, e com isso, assumem a postura de porta-voz do sistema neoliberal.




De acordo com matéria publicada pelo site da revista Carta Capital no dia 17/06/16, por Victor Farinelli, ousadamente, Hugo Chávez e Cristina Kirchner foram dois governantes que bateram de frente com os grandes grupos, ao tentarem promover políticas para enfraquecer os monopólios e desenvolver emissoras governamentais, com programas educativos e culturais. Na Argentina, a Ley de Medios tinha o intuito de limitar o domínio dos monopólios e conter a precarização da informação, potencializada pelo vínculo dos grandes grupos de comunicação com o mercado, principalmente o mercado internacional. Com isso, o governo Kirchner foi acusado de estar censurando os veículos e limitando a liberdade de imprensa, o que na realidade é um equívoco, pois não se pode falar em liberdade quando apenas um grupo é responsável pela maioria esmagadora das informações que são veiculadas no país onde atua, tal como ocorre com o grupo Clarín na Argentina.



Da mesma forma, Chávez legalmente agiu contra o grupo RCTV ao não renovar sua concessão. Comprometido com a qualidade das informações transmitidas ao povo da Venezuela, o presidente Chávez tomou conhecimento das noticias forjadas que constantemente eram veiculadas pelo grupo e prudentemente agiu da melhor forma possível.



De maneira menos intensa, outros governantes latino-americanos tentaram driblar o poder dos grandes veículos, como fez a presidenta do Chile, Michelle Bachelet, que lançou um orçamento recorde para investir em emissoras de televisão públicas e criou um canal estatal voltado para a cultura. Isso potencializou uma onda de informações caluniosas ao seu respeito por parte de alguns veículos do país, vinculados ao neoliberalismo e insatisfeitos com a democratização da informação proposta pela presidenta.


Ironicamente, os mesmos grupos midiáticos que acusaram os governos social democratas de cercearem a liberdade, e que apoiaram notavelmente o fim desses governos, vide o que ocorreu no Brasil com a presidenta Dilma, hoje, sob o domínio de presidentes neoliberais como Michel Temer e o argentino Mauricio Macri, nada dizem a respeito das políticas comunicacionais duvidosas por parte de ambos presidentes. Na Argentina, após a divulgação do nome de Mauricio Macri nas listas dos Panamá Papers, o presidente lançou um projeto que prevê prisão para quem ousar denunciar casos envolvendo lavagem de dinheiro, criou emissoras estatais e eliminou da programação televisiva canais como o Russia Today e a TeleSur.



De maneira semelhante, o presidente interino do Brasil, Michel Temer, também foi seletivo ao distribuir verba pública para a comunicação, intervir nos meios públicos e limitar a manutenção de blogs e jornais alternativos com patrocínio do governo. Com isso, a comunicação no Brasil continua estando a mercê de grupos como a Editora Abril, o Grupo Globo e outros grandes veículos como a Folha de São Paulo, o Estadão e sites como o UOL, vinculado à Folha de São Paulo, o Terra e demais veículos igualmente expressivos.


Com isso, os veículos de comunicação vinculados aos grandes grupos vem conseguindo assumir posições privilegiadas e exercer influência sobre a formação cultural e direcionamento político dos povos dos países latino-americanos. A postura social democrata, os investimentos em informação de qualidade, educação e noção política, nada interessam ao sistema neoliberal, que possui total apoio da mídia de das oligarquias familiares que as controlam. 


André Felipe Maria

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