quinta-feira, 21 de julho de 2016

Aniversário de 40 anos da ditadura militar na Argentina: A constante tentativa da direita em deslegitimizar os movimentos sociais e esconder os horrores do regime militar

O terrorismo de Estado é uma prática que, como muitos sabem, fez parte do cenário político na América Latina na segunda metade do século XX. Dentre eles, um dos piores foi o regime que assolou a nação argentina, e que completou quarenta anos em 2016. O autodenominado Proceso de Reorganización Nacional, foi responsável por um doloroso período que durou sete anos.
Em matéria especial publicada pela Folha de São Paulo, foram levantados dados relacionados ao regime e os movimentos sociais que lutam exaustivamente para preservar a memória de um período tão cruel e marcante para muitas famílias.


A junta militar que governou a Argentina foi responsável por diversos seqüestros, atos de tortura e desaparecimento de crianças, que foram retiradas de seus pais e distribuídas para que fossem criadas por famílias de militares, um dos atos mais cruéis da história do país. Até hoje, muitas mães lutam para encontrar seus filhos roubados, um processo lendo e doloroso.
Em meio à infinidade de crimes e violações que se sucederam na época, muitos ainda se prestam ao papel de deslegitimar a causa dos manifestantes e negar a verdadeira face do extremismo de direita na Argentina.


Após longos anos de muito estudo e investigação, o país conseguiu apontar a existência de mais de trinta mil desaparecidos, um número de fato grande, que retrata a magnitude da violência aplicada pelos militares. Apesar disso, muitos ainda insistem em dizer que o número é falso, fruto de levantamentos fraudulentos por parte dos ativistas, um julgamento equivocado e repudiável.
Pelo contrário, estima-se que o número de desaparecidos, torturados e mortos possa ser inclusive superior ao que foi levantado pelos ativistas argentinos no decorrer dos anos. Apenas pode falar com propriedade sobre as seqüelas do terrorismo de Estado aqueles que sofreram na pele o terror de uma ditadura, como os filhos, esposas, pais e até avós daqueles que foram seqüestrados, torturados e mortos.


Entre os anos de 2003 e 2015, os Kirchner foram exemplo ao realizar um complexo levantamento de dados e fatos históricos, fomentando a prisão, julgamento e condenação de ex-oficiais do período militar que violaram os direitos humanos. Ao contrário do Brasil, após a redemocratização, a Argentina tornou-se reconhecida em todo mundo por perseguir com maestria os torturadores, e colocá-los em seu devido lugar, ou seja, atrás das grades.
Mesmo com a consciência cidadã mais desenvolvida em relação ao tema “ditadura”, a Argentina também conta com mentes atrasadas e pessoas descompromissadas com a justiça, como quando o jornal La Nación publicou um editorial criticando os processos em andamento contra oficiais que praticaram tanto atos de tortura, como outras violações. Felizmente, o editorial foi rechaçado pelos próprios funcionários do jornal, que protestaram contra tamanha insensatez.
O próprio ministro da cultura do atual presidente Mauricio Macri afirmou que considerava excessivas as perseguições aos violadores dos direitos humanos, e com essa fala, foi rechaçado pela opinião pública.


Declarações como essas, por parte de um ministro da cultura, cultura essa que foi estrangulada pelas ferozes mãos do fascismo, não é de se impressionar, pois até mesmo um grupo de advogados argentinos, da associação Justicia y Concordia, se manifestou favorável ao governo militar na Argentina, com argumentos delirantes sobre o “avanço do comunismo” no continente e a necessidade em conter a onde de terroristas. Lamentavelmente, a Justicia e Concordia tem a audácia de chamar os ditadores argentinos de heróis.
Com essas tristes declarações, lamentáveis, conclui-se que ainda há muito trabalho à ser feito, pois até mesmo o presidente Mauricio Macri se manifestou contra a abertura de novos processos contra os torturadores, enquanto muitas mães e filhos ainda buscam respostas sobre o paradeiro de seus entes queridos, e clamam por justiça.


Embora a Argentina tenha sido um dos maiores exemplos latino-americanos na perseguição de torturadores, o avanço da direita no país vem enfraquecendo os movimentos sociais e silenciando a voz dos parentes das vitimas, mas a força do povo supera toda e qualquer tentativa de cercear a luta pela democracia, e a democracia plena só é alcançada quando os antigos torturadores são punidos à altura.

André Felipe Maria

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