Nos últimos anos o poder das
urnas deu espaço para uma expressiva presença de governos socialistas na
América Latina. Os anos 2000 foram marcados pelo surgimento de grandes nomes da
política de esquerda, principalmente na Venezuela e na Bolívia, como também, no
Brasil, na Argentina e no Chile. Após sofrer significativa derrota nas urnas, o
sistema neoliberal não se deu por vencido, e iniciou, por meio dos veículos de
comunicação privados, uma massiva campanha contra os presidentes
latino-americanos, focados em minimizar os atrasos sociais do continente,
frutos das políticas colonialistas, neoliberais e dos governos autoritários de
extrema direita, que fizeram da América Latina um verdadeiro quintal dos
norte-americanos.
Com nomes como Hugo Chávez, Evo
Morales, Cristina Kirchner e Luis Inácio, a América Latina pôde assumir um
posto razoavelmente competitivo e se firmar como continente soberano e
comprometido com o desenvolvimento social e cultural. Mesmo assim, muitos veículos privados passaram a
investir contra esses líderes políticos que não atendiam aos almejos do grande
capital e da elite econômica,, como Clarín na Argentina, a revista Veja no Brasil ou a RCTV
na Venezuela, que protagonizou um dos capítulos mais vergonhosos para a
comunicação na América Latina, quando deu respaldo ao golpe de estado que
obrigou o presidente Hugo Chávez, eleito democraticamente, a deixar o Palácio
Miraflores em Caracas, sob ameaça de ser bombardeado e morto, como foi mostrado
pelo documentário La Revolución No Será Televisionada. Os veículos que
apresentam participação majoritária no continente, em sua maioria, pertencem a
oligarquias familiares que possuem vínculo com o capital internacional, e com
isso, assumem a postura de porta-voz do sistema neoliberal.
De acordo com matéria publicada
pelo site da revista Carta Capital no dia 17/06/16, por Victor Farinelli, ousadamente,
Hugo Chávez e Cristina Kirchner foram dois governantes que bateram de frente
com os grandes grupos, ao tentarem promover políticas para enfraquecer os
monopólios e desenvolver emissoras governamentais, com programas educativos e
culturais. Na Argentina, a Ley de Medios tinha
o intuito de limitar o domínio dos monopólios e conter a precarização da
informação, potencializada pelo vínculo dos grandes grupos de comunicação com o
mercado, principalmente o mercado internacional. Com isso, o governo Kirchner
foi acusado de estar censurando os veículos e limitando a liberdade de
imprensa, o que na realidade é um equívoco, pois não se pode falar em liberdade
quando apenas um grupo é responsável pela maioria esmagadora das informações
que são veiculadas no país onde atua, tal como ocorre com o grupo Clarín na
Argentina.
Da mesma forma, Chávez legalmente
agiu contra o grupo RCTV ao não renovar sua concessão. Comprometido com a
qualidade das informações transmitidas ao povo da Venezuela, o presidente
Chávez tomou conhecimento das noticias forjadas que constantemente eram
veiculadas pelo grupo e prudentemente agiu da melhor forma possível.
De maneira menos intensa, outros
governantes latino-americanos tentaram driblar o poder dos grandes veículos,
como fez a presidenta do Chile, Michelle Bachelet, que lançou um orçamento
recorde para investir em emissoras de televisão públicas e criou um canal
estatal voltado para a cultura. Isso potencializou uma onda de informações
caluniosas ao seu respeito por parte de alguns veículos do país, vinculados ao
neoliberalismo e insatisfeitos com a democratização da informação proposta pela
presidenta.
Ironicamente, os mesmos grupos
midiáticos que acusaram os governos social democratas de cercearem a liberdade,
e que apoiaram notavelmente o fim desses governos, vide o que ocorreu no Brasil
com a presidenta Dilma, hoje, sob o domínio de presidentes neoliberais como
Michel Temer e o argentino Mauricio Macri, nada dizem a respeito das políticas
comunicacionais duvidosas por parte de ambos presidentes. Na Argentina, após a
divulgação do nome de Mauricio Macri nas listas dos Panamá Papers, o presidente
lançou um projeto que prevê prisão para quem ousar denunciar casos envolvendo
lavagem de dinheiro, criou emissoras estatais e eliminou da programação
televisiva canais como o Russia Today e a TeleSur.
De maneira semelhante, o
presidente interino do Brasil, Michel Temer, também foi seletivo ao distribuir
verba pública para a comunicação, intervir nos meios públicos e limitar a
manutenção de blogs e jornais alternativos com patrocínio do governo. Com isso,
a comunicação no Brasil continua estando a mercê de grupos como a Editora
Abril, o Grupo Globo e outros grandes veículos como a Folha de São Paulo, o
Estadão e sites como o UOL, vinculado à Folha de São Paulo, o Terra e demais
veículos igualmente expressivos.
Com isso, os veículos de
comunicação vinculados aos grandes grupos vem conseguindo assumir posições
privilegiadas e exercer influência sobre a formação cultural e direcionamento
político dos povos dos países latino-americanos. A postura social democrata, os
investimentos em informação de qualidade, educação e noção política, nada interessam
ao sistema neoliberal, que possui total apoio da mídia de das oligarquias
familiares que as controlam.
André Felipe Maria
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